A razão de
escrever?
Bem, escrever
é sinônimo de desafio. Ou desafios, melhor dizendo. O escritor precisa, antes de
mais nada, converter e organizar, em palavras, eventos e personagens, em
determinados cenários, da forma mais interessante possível, para passar uma
mensagem, sem deixar que a alma dela se perca em tanta métrica. Depois de tudo,
o escritor precisa conseguir ser lido. E, em virtude da inércia cultural
contrária ao que é mais sutil e menos imediato, conseguir tal façanha não é
nada fácil. A menos que você tenha séries ou filmes caríssimos produzidos, para
servir de propaganda. Como não é a
realidade de... quase todos os escritores... nos resta lutar para conseguir
tempo para escrever sem certeza alguma de um pagamento que justifique a energia
elétrica e o computador que estão sendo usados, para citar o mínimo. Ante
tantos desafios, vem a pergunta: O que nos leva a não desistir?
A satisfação
do escritor é intensificada a qualquer vestígio de vencer os desafios iniciais.
A maior satisfação, porém, está numa vontade inerente ao ser humano: compartilhar.
Não é à toa
que a internet é movida hoje por esta vontade. O prazer em compartilhar é
facilmente perceptível quando nos encontramos com amigos para beber, comer ou
simplesmente contar casos. Inúmeras vezes fiz questão de levar amigos e
familiares para assistirem a algo que eu já havia assistido para, puramente, assisti-los
a assistir o filme ou espetáculo que me encantou. Saber, aliás, o que iria
acontecer, ampliava minha satisfação e meus sentidos, atentos para captarem as
reações daquelas pessoas, para verificarem como eram mexidas por aquilo diante
de nós.
Certamente é
mais simples compartilhar vídeos, fotos, tirinhas e outros artifícios imediatos.
Os livros requerem um tempo maior e mais disposição. Felizmente ainda são
sugeridos a amigos, num círculo menor, que seja. É preciso ter consciência
disso. Lutar para que os livros continuem a existir é algo não apenas do
escritor. O leitor precisa se libertar das correntes da inércia que nos
direciona para um mundo onde a qualidade da cultura é seriamente questionável.
Os
escritores não deixarão de escrever. Não os que escrevem, antes de mais nada,
para eles mesmos. Pela satisfação de vencer os primeiros desafios e contemplar sua
obra. Para que ela não vá parar numa gaveta ou pasta virtual, porém, há os
outros desafios de uma guerra sem fim.
Para ser
escritor lido, hoje em dia, é necessário ir ao campo de batalha e lembrar aos leitores
- seu exército-, o fato de estarem lutando uma guerra sem fim. Não lutamos por
um fim. Lutamos pelo contrário, na verdade. Lutamos pela continuidade e, numa
guerra desta, vencer é continuar de pé. É se orgulhar em ver alguém erguer sua
espada ao nosso lado, contra todas as adversidades, por acreditar em nosso
trabalho a ponto de o ter partilhado e buscado novos soldados para a campanha.
Esta guerra não é contra pessoas. A arte não é religião. Não é e não deve ser imposta. A guerra é pela liberdade de manter uma outra opção a quem interessar. A televisão,com seus programas, não é um inimigo. O inimigo está em nós mesmos. Neste campo de batalha, nos enfrentamos a todo o momento. Lutamos contras nossas sombras. Contra a vontade de não lutar, aliás. E, quando as pernas bambeiam, nada como um companheiro para nos manter em pé. Costas com costas. Isso, por si só, nos dá força para brandir nossas espadas com mais vigor e podermos, no fim de um dia, ou dias, sentar em frente uma fogueira e compartilhar um momento entre amigos. Quando novas histórias podem ser contadas.
Esta é a razão.
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Sou William Morais. Quero ser artista quando crescer -e no decorrer-. Aventure-se pelo índice de publicações e descubra mais sobre A Saga do Novo Tempo e meus livros! Para conhecer minhas outras artes, acesse o meu Portal!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQue reflexão, Willian... a metáfora bélica com o ato de escrita em nossa contemporaneidade é uma das mais interessantes que já vi. Que haja muitos outros generais como você a incentivar não só as valiosas hostes de leitores, mas também todos os aspirantes que, como eu, um dia pretendem levantar o estandarte de sua própria arte.
ResponderExcluirE pelas amostras que já tive, certamente estarei entre suas fileiras! Hasta!
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